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3 de fevereiro de 2011

1º capítulo - Antipatia à primeira vista




No instante em que pisei na república, fui recepcionada pela veterana, Joanna Hentall.
Ao se apresentar, Joanna disse estar iniciando o segundo ano de Relações Públicas e vinha de Allerdale, uma cidadezinha de Cumbria, condado do norte da Inglaterra.
Eu também me apresentei:
- Elladora Gifford, caloura de História da Arte; sou de Harlow distrito de Essex.
Joanna foi o meu primeiro contato em Hampton e passou a ser minha amiga quase que instantaneamente.


Os dois primeiros meses após a minha chegada em Hampton foram de poucos acontecimentos, e não há nada de espetacular para se contar, em relação à fase de adaptação.
Me limitei à amizade de Joanna, que, até o momento para mim, havia sido suficiente. Porém, o destino tinha algo para me dar, e me lembro muito bem do dia em que minha história começou a sofrer as mudanças que hoje fazem parte da mais importante fase da minha vida.


Era um fim de tarde agradável; Conversava com Joanna no refeitório da república, dando-lhe 30% da minha atenção.
Ela falava sobre as cores que pensava em pintar as paredes do seu quarto e de uma goteira insistente, que havia brotado em cima da sua cama. Enquanto os outros 70% do meu cérebro preocupavam-se com *Henri Matisse, tema do trabalho que deveria entregar em algumas horas.


- Pensei também em azul, azul royal. – disse Joanna, pensativa, levando o dedo nos lábios.
- Cores fortes não combinam com você, Joanna. – eu não a encarei para falar.


- E o que você entende de cores na parede, Elladora? Já fez curso de feng-shui, por acaso?
- Não seja tola, não é preciso entender para deduzir que azul royal não é uma cor que combine com você – Disse eu, fechando o caderno após escrever a frase de conclusão do trabalho e mudando de assunto bruscamente - Queria arrumar um emprego.


- Por que não vende os quadros que você pinta?
- Porque pagariam hoje um valor abaixo do que eles valerão daqui há alguns anos. – respondi com segurança.
- Que outra coisa você sabe fazer?
- Sei fazer muitas coisas, mas por aqui não tem muita opção. Tudo é muito restrito e o que se tem para fazer não é nada legal.


- Vendedora de loja? Barista?
- Não.
- Você poderia dar aulas particulares!
- Se alguém por aqui tivesse grana... mas não é o caso.
- Ah, então fica difícil.


Perdi os olhos no ambiente enquanto buscava outras opções de emprego, ao mesmo tempo em que Joanna citava mais meia dúzia de profissões que estavam fora de cogitação, até que ela me questionou entusiasmada:
- Você me disse que sabe tocar guitarra, não disse?


- Sim – Resmunguei ao imaginar que ela me incentivaria a tocar o instrumento na porta de algum pub, atrás de gorjetas ralas.
O Nightmares está recrutando guitarrista, por que não faz um teste?
- Sério? – perguntei visivelmente animada.
- Ahãm! Já te levei para assistir ao show deles no Public House, você lembra?


Eu a encarei confusa, não me lembrava do tipo do som tocado pela banda; para ser mais sincera, não me lembrava nem do nome.
As primeiras semanas em Hampton tiveram algumas comemorações para a chegada dos Calouros, e fomos a alguns pubs, e vimos algumas bandas veteranas tocarem; entretanto estive muito ocupada para prestar atenção nos palcos.


- Hum, desculpa Jô, eu... Não estou me lembrando.
- Tá brincando?! – Exclamou, levemente irritada - Eu mesma já falei milhões de vezes nessa banda, o baterista é demais!
- Não me lembro mesmo. – Reagi após tentar puxar mais alguma informação no cérebro e não encontrar - mas... Enfim, onde posso encontrar com algum membro?


- Xi! Daí é complicado. Por causa das groupes a casa vive fechada, mas podemos ver a agenda dos pubs; certamente eles tocarão por esses dias.


- Entendo...
Já estava planejando invadir a tal casa restrita e já havia elaborado metade do plano quando Joanna rompeu o silêncio:
- Não acredito!
- No quê?
- Garota – Ela alargou um sorriso imenso - Hoje é o seu dia de sorte! Olha quem acaba de entrar aqui!


- Quem? – Perguntei, tentando reconhecer a figura que acabava de surgir no refeitório.
- O Urik Curtis! O baterista lindo que eu te falei, do Nightmares.


Levantei-me da cadeira para encará-lo melhor.
Urik Curtis não era dos piores que já tinha visto em Hampton, mas estava longe de ser o melhor.
Os cabelos negros caiam-lhe pela testa, porém não escondiam os olhos muito azuis que contrastavam com o tom pálido da pele. Olhando de longe ele até parecia L'Absinthe, um quadro pintado por Pablo Picasso.
A barba por fazer completava o visual desleixado junto com meia dúzia ou mais de piercings.


Segui do rosto para o corpo em questão de segundos; não era um cara sarado, ele era magro, apenas magro... Não consegui enxergar o adjetivo “demais” a que Joanna havia feito referência. Ele era normal, se não fossem os olhos não teria nenhum atrativo.


– O que será que ele está fazendo aqui? – Quando Joanna completou a pergunta, o tal Urik virou-se em nossa direção... parando de frente para mim, questionando-me em seguida:
- Você conhece um cara chamado Guilhermo? – Ele me encarou cor um ar típico de alguém que se acha acima do topo do mundo.


- Não conheço. – Ele desviou os olhos para Joanna, que estava num estado entre o choque e o transe.
- E você, loirinha? Conhece um cara chamado Guilhermo?
- Si.. sim, eu conheço. Mas ele não mora faz algum tempo nessa república. Ele foi pra... pra república que fica em frente à torre do relógio. – a frase inteira saiu picotada.


- Tsc, terei que atravessar Hampton pra encontrar o cara – Disse Urik desapontado - Será que você não tem um telefone? Sabe, ele ficou de fazer o teste como guitarrista e... Poxa, o cara mudou! – exclamou por fim, irritado.


- Eu toco guitarra. – Disse eu, cortando os pensamentos de Urik.
- É? – Indagou, desinteressado.
- Sim.
- Não gosto de mulher tocando na minha banda. Vocês dão um tom muito melódico, e o lance é pesado.


- Eu toco qualquer coisa, não me prendo em um único tipo de som - insisti.
- Ainda assim, algumas vezes por mês teremos problemas com você. TPM e menstruação; são coisas que não quero que atrapalhe os nossos ensaios.
- É?
- É.


- Então pegue sua vaga para guitarrista e enfie no... – Joanna nos interrompeu antes que eu pudesse cuspir o palavrão.
- Ela toca bem, Curtis. Você deveria dar uma chance, fazer um teste... não custa nada.


Foi a minha vez de interromper.
- Não toco pra esse machista nem que eu receba milhões de libras num único dia.
Urik me ignorou, dirigindo-se para Joanna.
- Já ouviu o som da banda?
- Já! Se... sempre que consigo, vou aos shows de vo.. vocês. – ela voltou a gaguejar.


- Você acha que ela conseguiria acompanhar?
- Tenho certeza. – Mentiu Joanna, que nunca me ouvira tocar.


Urik voltou-se para mim.
- Aparece na minha casa amanhã, às vinte horas, vou fazer um teste com você.
- Não vou. Não pretendo suspender meu ciclo menstrual por causa de um ogro como você.


- Às vinte horas - Enfatizou ao dar as costas para mim, fingindo não me ouvir.
- Qual é o seu problema?! Você é surdo?! – Berrei em sua direção enquanto ele desaparecia do meu campo de visão sem nem ao menos olhar para trás.



*  Henri-Émile-Benoît Matisse - foi um artista francês, conhecido por
seu uso da cor e sua arte de desenhar fluida e original.
Foi um desenhista, gravurista e escultor, mas é principalmente
conhecido como um pintor.

7 comentários:

  1. Hehehe! Que primeira impressão ruim! Urik parece saber o que está fazendo, embora tenha sido um tanto antipático! u_u Talvez eu tivesse chorado ao invés de xingar, mas não ia querer aparecer pro teste tb. =/ Mas algo me diz que ela vai. Me pergunto o que Joanna vai fazer para convencê-la. Ou será outra pessoa?

    Bjks!

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  2. Se os olhos azuis são o único atrativo de Urik, ele teria ficado sem nenhum se fizesse isso comigo. Eu os teria deixado roxo com o soco que ia lhe dar!! FATO!!
    Espero q ele engula todo o desaforo que disse com farinha, q é pra ficar bem ruim de engolir!! u.u

    Beijos!!

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  3. Parece que o Urik é que tava de TPM e ainda por cima é surdo! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Matisse é um pintor do fauvismo que amo de paixão, principalmente a forma como usa o verde e o vermelho!

    Ansiosa...
    bjosmil! *.*

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  4. Pah:
    Com o tempo vocês vão perceber que a Elladora não é do tipo que leva
    desaforo para casa, ela é tão casca grossa quanto o Urik.
    Será que alguém convence a cabeça dura?! Sei não...

    Mynna:
    Tadinho! Não fala assim dele... :(
    kkkkkkkkkkkkk
    Se na primeira aparição a popularidade dele já está no chão,
    temo pelo restante... keke

    mmoedinhas:
    uasdhadhaudh eles me fazem rir também, muitas vezes.

    Mita:
    Aaaaaah o Urik vive de TPM! E confesso... ele
    só é surdo quando lhe convém... .lala.
    Amo Matisse. Conheci o trabalho dele muito tarde, em 2002 quando apresentei
    um trabalho de história da arte na facul, uma pena que na época não era um
    assunto que me prendia, hoje sou completamente apaixonada.
    Obrigada por complementar minha informação.
    Ah! Para quem gosta de estudar os cenários, vai pintar um monte de quadros
    famosinhos... um deles é do Matisse mesmo, e está no prólogo.

    Obrigada meninas, pelo carinho de sempre.
    Beijos mil.

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  5. Por que será que esqueci tudo o mais de comentários anteriores à chegada de Urik?
    Deixa eu limpar a baba e fechar a boca, kkkkkkk.
    Menina, rialto com a Ell-boca-suja!
    E por que eu simplesmente não resisto a um bad boy?
    Urik, quero-te!!

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  6. Urik para tudo... tbm não resisto aiiin

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