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18 de novembro de 2011

Epílogo

5 anos depois


Mamãe entrou em contato comigo há quatro anos.
Ela se separou do meu padrasto há pelo menos quinze anos para se casar com um canadense, cujo nome não consigo me lembrar.


E ela quase me matou de felicidade ao anunciar que tenho dois irmãos e uma irmã!
Minha irmã é filha do meu ex-padrasto e se chama, Claire, e os meus dois irmãos são do atual, o mais velho chama-se Terry e caçulinha Andy.
Um dia mamãe disse que virá para Londres juntamente com os meus irmãos para que eu possa conhecê-los.
Apesar de não botar muita fé, continuo aguardando ansiosa pela sua visita.


Aaron e Chad continuam a fazer comédia Stand-Up.
Dois anos atrás receberam um prêmio da Associação de críticos de arte pelo show que vem apresentando ao redor do mundo chamado “Desarranjo cerebral” e por este motivo aparecem com frequência na mídia.


Aaron continua solteiro, e Chad está namorando seriamente com a modelo, atriz, e celebridade instantânea: Camila Ortega.


Nicko e Joanna continuam casados, eles levam uma vida muito pacata em Allerdale.
Gregory, o filho deles, já está quase completando o ensino fundamental, e Nicko me disse da última vez em que nos falamos, que o sonho do seu herdeiro é ingressar em Hampton! Eles já o estão preparando.


Urik Curtis realizou todos os seus sonhos.
Foi dono de um grande estúdio, agenciou bandas famosas, juntou muita grana e comprou selos importantes.
Após conquistar tudo o que quis, pasmem... ele largou tudo, voltou para Londres e atualmente vive muito bem com a renda de seus selos musicais.
Dizem que ele nunca mais namorou, contudo, vez ou outra é flagrado em companhia de Birgitta Larsson, vulgarmente conhecida por mim como: A moça do outro lado do pub.


Janson Bencini, após um longo período de luto pelo término do nosso relacionamento, decidiu sair de casa para ver como andava o mundo do lado de fora.
E em um belo dia de primavera, enquanto rodopiava pelo Museu da Arte Moderna, acabou encontrando, Marian.


Do Museu para a conversinha no café mais próximo foi um piscar de olhos, e com a mesma rapidez com que se prepara um Cup Noodles, eles se acertaram.


Janson e Marian casaram-se há quatro anos e cinco meses, Annik nasceu há dois.
Jan também acabou realizando todos os seus sonhos, até mesmo o de comprar uma casa no campo, hoje ele alega ser o cara mais feliz e realizado do mundo, e eu desejo a ele toda a felicidade do mundo também.


Comigo não foi tão diferente.
Depois de um grande período de reclusão, virei frequentadora assídua da noite londrina, e foi na Charterhouse Street, em uma balada chamada Fabric, que encontrei o meu alguém especial.
O nome dele?! Chris Donovan, definitivamente o meu DJ predileto.


Ele vem sendo um ótimo namorado, e tem sido ótimo durante os dois anos em que estamos juntos.
Porém de uns meses pra cá entrou em umas de querer dividir o mesmo teto, com o pretexto de que me ama demais e que não consegue viver longe, nem que seja um segundo sequer.
E eu vivo dizendo a ele:
- Se manca, garoto! Você nem completou vinte e cinco anos! Além do mais, não sei se suportaria ouvir o barulho da sua Pick-up por mais de uma semana.


Chris disse que quando eu menos esperar vai trazer sua pick-up, e o que presta de sua mobília para a minha casa quando eu não estiver presente, e eu sempre finjo ficar muito brava.
Mas a verdade é que adoro toda essa fase de inquietação dele, e fico fazendo charme só para ouvi-lo dizer que me ama infinitamente mais do que o single "Bedrock – Heaven Scent" de 1999 autografado pelo John Digweed, que ele adquiriu após travar uma longa luta corporal com quinhentas e noventa e oito pessoas no Club Up em Amsterdam, e que até venderia o vinil em alguma feirinha barata por uma ninharia, só para me provar o quanto está sendo sincero.


Sobre o Chris, só posso dizer que o amo muito.
Minha vida ao seu lado passa um pouco distante dos contos de fadas, ainda assim sinto-me vivendo o feliz para sempre todos os dias.
Agora, se ficaremos juntos por toda a eternidade?
Não posso responder, mas torço para que seja eterno enquanto dure.


Fim


Obrigada a todas as minhas amigas queridas (e amigos também)!
Vocês são o maior presente que já ganhei!
Amo vocês, muito!
<3

13 de novembro de 2011

53º Capítulo - Urik x Janson x Elladora


- Entra, ela está na sala. – Engoli em seco, porque Urik insistia em pisotear nos meus restos?
- Sai da minha frente - Disse Janson por entre dentes, e ouvi seus passos virem em minha direção, na medida em que encolhia mais os meus ombros e apertava meus olhos.


- Você está bem? - Questionou-me, assim que me encontrou encolhida junto ao sofá:
- Sim... estou. – Respondi, quase pedindo desculpas.
- Então levanta, vamos pra casa.


Estava acatando as ordens de Janson, e não lembro muito bem de conseguir respirar, quando o inconveniente e debochado Urik resolveu abrir a boca para estragar todo o meu plano de fuga:
- Não te chamei aqui pra levá-la embora, é hora dela saber sobre o nosso trato.
- Magnus - Seu nome saltou pela minha boca como um apelo para que ele ficasse quieto, deixando que tudo se resolvesse de forma pacífica.


Evidentemente ele não deu a mínima para mim:
- Vamos, conta pra ela, Bencini... o quanto você pode ser confiável.
Janson não respondeu, passou a mão pelas minhas costas e me posicionou a sua frente me direcionando para a saída, enquanto Urik insistia:
- Porque ela acha que você é!
Percebi que Janson começou a perder o controle, quando senti seus dedos tremelicando em meu ombro, infelizmente era tudo o que Urik queria:
- Ok, não vai falar? Então continue escondido atrás da sua covardia; Quem sabe daqui há alguns anos você consiga fazer com que ela o ame!


Não posso dizer qual foi a gota d'água, mas ela chegou pra Janson, que encarou Urik dando a bandeirada para a discussão:
- Por que você não conta, se te importa tanto? Acaba comigo de uma vez, ou todo esse teatro faz parte de mais alguma estratégia?
- Ah! – Zombou Urik, sem conseguir esconder a raiva - estratégias? Pra Elladora? Eu não preciso disso, o que sentimos um pelo outro é natural, nunca precisei me vestir de santinho pra que ela tivesse sentimentos por mim, ou viesse a me amar, porque ela é minha Janson! Coisa escrita, trabalho feito, destino, bruxaria, não sei explicar... mas é um fato.


- Onde você esteve por todo esse tempo?! – Argumentou Janson, com a voz cheia de amargura - Você não viu o estado em que ela estava quando fui até a república, eu vi! Eu convivi com isso por todos os anos que se passaram... se você teve coragem de deixar que ela definhasse até que a diversão te cansasse, então não pode dizer que sente algo por ela.
- Nunca a enganei – Urik rebateu, usando como sempre a veracidade a seu favor - ela sabe porque fui embora, admiti que por um bom tempo você foi melhor pra ela do que eu... Então, como foi combinado, agora é hora de você sumir e deixar que eu cuide das nossas vidas daqui pra frente.


- O trato era que ela fizesse a escolha, bom... pelo visto você não conseguiu fazê-la ir embora, não é? - Desdenhou Janson, fazendo com que Urik torcesse o nariz - Isso explica muita coisa; Pergunta a ela o que ela quer, ela sabe andar, ouve, fala... e tem vida própria, não percebeu ainda... mas tem.
- Ela já decidiu! – Vociferou Urik - e decidiu por um erro! Pois ela pensa que te conhece, se sente protegida ao seu lado, o que é ridículo... afinal você escondeu um fato dela, que pode mudar tudo.


- Chega! Parem, não aguento mais! - Berrei esperando que toda aquela sessão de joga na cara terminasse de uma vez por todas - Vamos, Bencini, conta que trato é esse? Acaba logo com isso antes que eu saia daqui sem ouvir nenhuma explicação!
Sem dizer qualquer palavra, Janson tirou o celular do bolso, e após deslizar os dedos pelo touch screen, deu início a leitura:
- SMS enviada ontem: “Ela já está indo pra casa, pode relaxar”


Jan balançou a cabeça de forma negativa, seus olhos tornaram-se marejados e com a voz embargada, tornou a ler o conteúdo na tela do celular:
- Hãm... SMS enviada dois dias antes do show de Aaron e Chad: "Eu vou ao teatro, Bencini, você querendo ou não... e vou falar com ela"
- Você sabia, Jan? – Resmunguei aturdida, e ele sem coragem de olhar no meu rosto, respondeu:
- Sim.
Não tive tempo de digerir as informações, Urik cortou meus pensamentos:
- Estas são recentes, Janson! Leia as outras.
- Não tenho outras, não poderia guardar as mensagens que você me mandou por todos estes anos.


- Todos esses anos? - Reagi estarrecida – Como assim, todos esses anos?
Urik sorriu vitorioso, Janson iniciou a explicação:
- Urik vem mantendo contato comigo desde Hampton... Vem me pedindo notícias suas, não pude compartilhar esse segredo com você, sinto muito.
- Por quê? - Indaguei com dificuldade.
- Quando o Curtis te deixou, alguns meses depois... não sei como, ele conseguiu o meu telefone e pediu que eu te procurasse; Propôs um trato de que se um dia ele resolvesse voltar atrás, deixaríamos que a decisão de escolha partisse de você... Eu não pude recusar, era tudo o que eu queria! Sem Urik por perto, só precisaria conquistar sua confiança e seu afeto.



- Um trato?! – Consegui com muito custo pronunciar alguma coisa, e me entreguei ao silêncio esperando que Jan terminasse de se esclarecer:
- Sim, um trato... só que o Curtis está dizendo agora que me fez um empréstimo! Insiste em dizer que se não tivesse ido embora, desistido... eu não teria tido chance alguma! E não te comuniquei exatamente por este motivo, tinha certeza que você me obrigaria a contar onde ele estava, e iria me deixar para ir atrás dele.
- E pra você esteve tudo certo, Jan? Você... pôde lidar com a perca, quando eu decidia te deixar, por outros... motivos, mas não poderia aceitar ser o Urik? É isso?


- Em partes... Pra mim, não existia pessoa no mundo que pudesse te machucar, só o Curtis.
- Só eu? Que palhaçada! - Urik resmungou, como se não pudesse acreditar nas palavras de Janson, eu o ignorei. Meu foco principal naquele momento era o Bencini:
- Você se enganou, Jan... você também pode e eu também posso fazer isso, mas quer saber? Que se dane...
- Eu posso explicar! Você tem que entender que...


Eu o interrompi:
- Não tenho que entender briga de ego... acho que meu erro foi ter dado valor demais pra toda esse circo armado, vocês... sequer olharam pra mim por todo esse tempo, pois estiveram preocupados demais elaborando planos, cutucando um ao outro através de mensagens e telefonemas pelas minhas costas! Como vou entender isso? – Gritei a última frase, me sentindo uma completa idiota, mas logo me recompus e finalizei o discurso - Parabéns para os dois, vocês conseguiram! Um derrotou o outro, mas infelizmente não vai ter troféu.


- Nunca pensei assim... – Pronunciou, Janson - Eu amo você, do fundo do meu coração! Por favor, entenda que foi a única chance que tive! Não queria que ele te maltratasse novamente, preferia que fosse comigo, do que ver você mais uma vez submissa do Curtis!
- Janson... – Interpelou Urik, com cara de indignado, como se ele tivesse sido passado para trás – Sinceramente você deveria se calar e se redimir... Cara, você é um mentiroso.
A atitude tomada por Urik, de tentar jogar a culpa toda para o Janson, fez com que eu me sentisse ainda mais patética... se fosse no início da noite tenho certeza de que ainda lhe daria créditos, porém diante de tantas descobertas, seus bônus comigo tinham acabado de se esgotar.


Alguma coisa despencou dentro de mim, fazendo com que eu me dotasse de coragem e retomasse meu discurso cheia de sarcasmo:
- Quer saber, Janson? Acho que consigo entender... isso é uma teia, não é? Urik foi colocando todo mundo nessa teia, posso até apostar que os meninos também estão envolvidos nisso, aliás, quem nunca esteve, não é verdade?! Quem nunca foi enganado pelo Curtis?
Bencini me olhou preocupado e Magnus desconfiado.
- E então, era esse o fim que você previu, Urik? Está de acordo com as suas vontades? - Perguntei a ele por fim em tom ameaçador, admirada com a minha firmeza:
- Você quer mesmo saber? – Ele sorriu, ironicamente.
- Sou toda ouvidos. – Respondi, com suavidade.


- Não, não achei que terminaria assim – Replicou ele, frustrado - vim disposto a te levar embora, para vivermos o nosso sonho, aquele que interrompemos em Hampton, você pode se lembrar de como éramos felizes? – Ele tentou me comprar, mas desta vez, sem sucesso.
- Sim - Sorri para ele de forma doce - É claro que sim, entretanto você se enganou... não foram sonhos, Ah! Não foram não... foram pesadelos.


Sem ter a intenção de me pronunciar novamente, comecei a caminhar para fora do apartamento, sentindo enjôo por segurar tanta raiva dentro de mim, Curtis ainda teve tempo de segurar o meu braço, Janson tentou impedir, mas resolvi dar ouvidos ao Urik, pela última vez:
- Eu nunca tive a intenção de te magoar...


- Eu amo você! Vamos, me dê uma chance – Pediu ele, com cara de inocente - Você sabe que estou sendo sincero!
- Eu sei que está - Voltei a encará-lo - muito obrigada pelo nobre sentimento... que ele permaneça no seu coração, se é que você tem um, e que te faça olhar para as pessoas como iguais, você pode ser muita coisa, Urik Curtis... mas deixa eu te contar um segredo – fiz uma pausa para causar impacto - você não é melhor do que ninguém; Ah sim, a chance... humm, dessa vez não, me desculpe... tenha uma boa noite.


Continuei a caminhar em direção a saída, Urik tentou me impedir novamente, porém deixei que Janson resolvesse por mim:
- Tira as mãos dela, otário... não ouviu o que ela disse? - Reagiu Bencini furioso, o empurrando para longe de nós.


Urik permaneceu sem reação, com os olhos esbugalhados por alguns milésimos de segundos, entretanto logo que se recuperou começou a nos atacar:
- Querem saber?! Vocês que se explodam! É isso mesmo! Danem-se vocês dois, espero que você continue tendo tratamento vip, Bencini, seu CORNO! E você vai se arrepender, Elladora... Pois não estarei mais disponível daqui pra frente, tá ouvindo?


- E qual é a diferença? Você não esteve por muito tempo, Curtis. - Rebati com um sorriso tenso nos lábios, enquanto entrava no elevador.

Não tive tempo de dar um tchau, para falar a verdade, sequer me esforcei para levantar o braço, só queria sair dali... estava exausta, de repente senti quatorze anos inteiros pesando toneladas nas minhas costas, só precisava dormir.


Janson escoltou o meu carro por todo o caminho... E eu agradeci diversas vezes por ele estar ali, ainda que estivesse em outro carro Bencini me deixava atenta jogando piscadas no meu retrovisor, quando eu me distraia com pensamentos e saia da pista sem me dar conta.


Quando chegamos em casa, segui direto para o quarto com Bencini ao meu encalço, entretanto não estava com a menor vontade de conversar, não naquele instante:
- Quer que eu faça alguma coisa pra você comer? – Indagou Janson, solícito.
- Não, agora eu não quero nada... Obrigada.
- E quanto a mim? Você pode me dar uma posição?
- Depois, Jan... quando eu acordar, conversaremos.
Sem que eu precisasse fechar a porta em sua cara, ele se retirou me deixando finalmente sozinha.


Quando deitei na minha cama pensei muito em Janson, pensei em Urik... pensei em mim e em tudo o que nos aconteceu, se eu pudesse apagar as coisas ruins... Apenas esquecer, seria perfeito. É uma pena que a vida real não seja como contos, é uma pena que apesar de eu ter descoberto tanta coisa, não consigo odiar Urik como gostaria... O que sinto é mágoa, uma mágoa infinita.
Pelo Jan, apenas frustração, pois só ele poderia ter mudado o final da história... Porém, só posso afirmar que teria feito o mesmo se estivesse em seu lugar... mas não vou bancar a juíza e decidir quem esteve falando a verdade, não vou mais voltar atrás... e esse foi último pensamento que tive antes de apagar.


Despertei algumas vezes com o telefone tocando insistentemente, hora o residencial, hora o meu celular, hora o celular do Janson, que respondia ao Urik cada hora de um jeito:
“Ela está dormindo”, “dá um tempo!”, “Você não ia viajar, não?”, “Você tem um estoque de bateria?”
E cada vez que eu o ouvia, tomava mais algumas pequenas decisões como: trocar o telefone de casa, trocar de casa, jogar meu celular fora, mudar de condado, mudar de país, mudar de corpo e de vida... infelizmente eu tinha plena consciência que nem todas elas eu poderia acatar.


Quando acordei muitas horas depois, parecia que tudo finalmente tinha se acalmado, me levantei e procurei por Janson, e o encontrei sentado em sua poltrona, esperando pela sua sentença pacientemente, com Chagall ao seu lado.
Assim que pousei meus olhos nele, ele se pronunciou:
- E então? Como ficamos?


Enquanto ele se levantava, inspirei um pouco mais de ar do que de costume e respondi:
- Eu gosto de você, Jan, muito... mas não é o suficiente pra te fazer feliz e nem para que eu me sinta feliz... – E com muita dificuldade, completei - Acho que, devemos ficar por aqui...
- Eu sou feliz com você, e poderia continuar te amando por nós. - Insistiu ele.
- Então eu continuaria sento grata por tudo, mas minha vida continuaria morna e muitas vezes até sem gosto.


Janson desviou seu rosto do meu e eu me desculpei, mais uma vez, entretanto, também seria a última:
- Se olhe no espelho vez ou outra, você sabe que merece alcançar seus objetivos, merece realizar seus sonhos.
- Você está me castigando... - choramingou ele.
- Não, só não quero que aconteça de você se decepcionar com suas escolhas, como está acontecendo comigo agora.


- Você tem certeza? Não... precisa mais de mim?
- Sempre vou precisar de você, Bencini... – Me aproximei e acariciei seu rosto - mas acho que preciso um pouco mais de mim agora.
- E o Curtis, o que devo dizer a ele? Ele está te ligando... sabe...
- Hãm... fala pra ele que você me chutou pra fora de casa e que não sabe pra onde eu fui, certo?


- Ele vai voltar pra me matar se eu disser isso.
- Então, fale qualquer coisa que quiser... Contanto que você prometa nunca mais contar sobre a minha vida.
- Me desculpe, Não vai mais acontecer, juro... nunca mais.
Jan me puxou para o aconchego dos seus braços, eu quase perdi o fôlego... não fazia muita idéia de como viveria sem ele pra concertar meu erros, mas Janson precisava viver, eu devia isso a ele.
- Eu amo você – Ele sussurrou próximo ao meu ouvido.
- Eu também, Jan... Também amo você.


Poucos dias depois, conseguimos entrar em um consenso sobre nossas coisas, definitivamente não gostaríamos de ficar com o apartamento.
Jan dizia que pensaria muito em mim, e bom... eu não me achava no direito de ficar com algo que nunca tinha feito parte dos meus sonhos, então decidimos colocar o imóvel a venda por um preço abaixo do mercado, com a intenção de que ele fosse vendido rapidamente.
Também decidimos partilhar a guarda do Chagall, uma semana ele ficará comigo, uma semana com Bencini, acho que dessa maneira Chag ficará feliz, principalmente por ter duas casas para marcar território.


Quinze dias haviam passado, quando recebemos a notícia de que o apartamento tinha sido vendido, como o novo proprietário estava com pressa, tivemos que retirar nossa mobília o quanto antes.


Por mais que estivéssemos aguardando a notícia, eu não estava exatamente preparada para aquele momento, ainda bem que Jan estava comigo, com ele ao meu lado, me sentia um pouco melhor.
Assistimos calados os nossos móveis serem retirados, pensando em tudo o que vivemos ali, era basicamente isso que nos passava em mente.


Mesmo quando o ambiente tornou-se completamente vazio, continuamos ali, por um bom tempo e partiu de Jan romper o silêncio:
- É engraçado, não é? São só paredes, mas parece que pertencem a elas parte da minha vida...


Eu ri da sua observação, pegando Janson de surpresa:
- Sempre me esqueço que você é publicitário, se trabalhar essa frase vai dar um bom slogan.
- É verdade - Ele riu também – Se um dia tiver uma construtora como cliente, certamente irei trabalhar nessa idéia - E após uma pausa, ele agitou a nossa partida - Vamos? Tenho que entregar as chaves.
Eu concordei, apenas balançando a cabeça.


Antes de seguirmos para os nossos destinos, voltamos a nos despedir... nos abraçamos mais algumas vezes, respondi a Janson que ficaria bem mais outras milhares de vezes e nos beijamos, um beijo saudoso que levaríamos pra vida toda.


E então Bencini resolveu partir. Enquanto ele seguia pra o carro dele, eu o assistia sorrindo, pensando em quanto eu estava orgulhosa dele e até mesmo de mim... e sorri mais ainda quando ele virou-se em minha direção caminhando de costas enquanto dizia:
- Hei, amor!
- Pode dizer, Jan...
- Vou sentir sua falta.


- Pegue seu telefone quando isso acontecer, boca aberta! Pouco mais de quinze quilômetros me separam de você, esqueceu?
- Hum, não... - Respondeu ele, pensativo – Acho que só estava fazendo charme, se cuida.
- Você também, Jan... E cuidado com as garotas malvadas! É bom que me escute dessa vez.
- Pode deixar, agora estou bem esperto.


Observei meu melhor amigo entrar em seu carro e ir embora...
No instante em que ele sumiu do meu campo de visão, decidi fazer o mesmo... era hora de ir pra casa.


Enquanto guiava meu carro pelas ruas de Londres, resolvi aumentar o volume do som... após fazer isso, resolvi ousar um pouco mais e abrir a capota do carro, me senti novamente como uma adolescente, foi a melhor sensação que já tive na vida.
Sentir o vento fresco bater na minha face, mostrando que estou livre, que estou viva! Devo dizer que, embora meu coração ainda se aperte vez ou outra, é assim mesmo que estou me sentindo, acredito que essa sensação faça parte do processo de cicatrização, ou talvez seja apenas uma nova fase.


Pois estou me dando conta de que havia escolhido seguir uma fraca intuição, onde eu nunca seria boa o suficiente para que alguém viesse a gostar de mim pelo que sou. Tive tanto medo de ser eu mesma, que deixei que outras pessoas tomassem conta de mim; Por muito tempo todos viveram a minha vida, menos eu.


E ainda que demore, posso sentir que vou me libertar de tudo... e vou dar o pontapé inicial dando espaço para novos sonhos, admito que escolhi começar com um muito audacioso da minha parte, ou seja: Alcançar a felicidade.
Na verdade, vou sonhar para que todos nós a alcancemos, até mesmo Urik Curtis, independente dos caminhos que iremos seguir daqui para a frente.