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27 de abril de 2011

15º Capítulo - Mudanças de primavera


Estávamos nos aproximando do período de provas, e assim que o ensaio deu-se por encerrado, Urik Curtis nos convocou para uma pequena reunião. Como de costume, eu, Aaron, Nicko e Chad ficávamos sentados no sofá, e Urik em pé na nossa frente ditando suas regras.


- Vamos dar um tempo de duas semanas para nos concentrarmos nas provas, e quando voltarmos a ensaiar, vamos fazer uma pequena modificação no repertório para a apresentação do festival de primavera; Alguma dúvida? – Aaron tinha.
- O que vamos tocar? – Urik passou os olhos pela sala, pensou por alguns instantes e respondeu:
- Vamos misturar um pouco de punk rock, pop punk e hardcore.


- O quê?! – Chad indagou – pop punk? Tipo, aquele troço melódico?
- É, Chad... Aquele troço melódico – Urik respondeu, fazendo pouco caso.


- Serei obrigado a cantar como o cara do Simple Plan?! – Protestou Nicko.
- Não Nicko, você não é obrigado; mas caso você não consiga se adaptar, tem uma banda nova de calouros loucos para arrumar um veterano que tenha algum sucesso... Se quiser eu ligo agora mesmo pra eles, e te indico. – Nicko engoliu seco, e calou-se.


- E você, Elladora; alguma reclamação?
Olhei pra ele assustada, estava acabando de assistir a minha parte predileta da reprise do seu filme proibido:
- Oi? Reclamação? De que exatamente? – Urik Bufou.
- Eu ia te fazer uma pergunta, mas... É melhor deixar pra lá.


Encolhi os ombros dando graças a Deus por ele ter desistido de me fazer qualquer pergunta:
- Punk rock, pop punk e hardcore; você tem alguma reclamação a fazer? – Questionou-me mais uma vez.
- Hãm… Green day, Good Charlotte, e essas coisas? – Ele balançou a cabeça impaciente – Por mim, tudo bem.
- Certo, então estamos de férias; Estejam vivos dentro de duas semanas, não me causem problemas... Em especial você, Elladora.
- Ok. – Disse eu aliviada por ele ter pegado leve com o sermão.


Urik saiu do estúdio nos deixando á vontade... Os garotos debatiam as novas regras de Curtis, e Nicko dizia que em um curto espaço de tempo Urik iria obrigá-lo a cantar como o Justin Timberlake; Não era uma piada, mas por um instante soou engraçado.
Eu até que tentei me distrair com o falatório, mas meus ouvidos não estavam conseguindo captar muita coisa, pois estavam ocupados demais tentando detectar algum movimento no segundo andar, tentando deduzir o que Urik estaria fazendo; se estava dormindo, estudando ou assistindo televisão.


Não demorou muito para que eu tivesse a resposta para as minhas dúvidas; desviei os olhos em direção à cozinha, dando de cara com o Curtis, que nos espionava pela janelinha que interligava os cômodos. Ele passou os olhos por mim rapidamente, e fez cara de poucos amigos, em seguida virou-se em direção à porta, sumindo do meu campo de visão; Meus músculos relaxaram instantaneamente.


Logo que Curtis deixou a casa, ouviu-se um barulho de trovão, e antes que a chuva começasse a cair, resolvi voltar para a república:
- Nos vemos por ai, meninos... se não; até daqui duas semanas.
- Por que você não dorme aqui, Elladora? – Sugeriu Nicko de imediato - Se quiser pode ficar com a minha cama, e eu durmo no sofá... sem problemas.



- Não posso, tenho um quadro pra terminar, sabe? Aquele que... sumiu - Eles assentiram, eu prossegui – Então, estou refazendo.
- Então acho melhor se apressar, pelo jeito vem temporal ai – Aconselhou Chad.


Tão rápido quanto alcançar a porta, a chuva atingiu o chão; E ainda tinha dois quilômetros de caminhada pela frente.
Encarei a rua sem muita coragem, mas deixei que minhas pernas seguissem o caminho por conta própria. Estava começando a me comportar de forma estranha, tinha acabado de fugir, e pratimcamente menti para os garotos só para não ter que ficar na casa. Felizmente, teria duas semanas para colar minhas idéias no lugar, esquecer definitivamente as cenas de Urik, e voltar a me comportar naturalmente como tinha sido até então.

7 de abril de 2011

14º Capítulo - Urik Curtis para maiores


As duas semanas seguintes foram torturantes. Ensaiar era torturante; ainda que Urik tivesse mantido a discrição em relação ao flagrante, ele me lançava olhares como quem dizia: “Eu te vi na porta do meu quarto, e sei que por mais que você não me tolere gostou do que viu.”


Tentava disfarçar o máximo que podia, tentava manter a mente limpa quando estávamos no estúdio, e logo que o ensaio acabava eu dava uma desculpa qualquer para dar o fora o mais rápido possível. Não contava exatamente uma mentira; Afinal estava tentando recuperar o quadro que havia sumido.


O problema era que quando estava frente a frente com o meu cavalete, simplesmente não conseguia me concentrar; o filme proibido de Urik não parava de passar na minha cabeça.


E não era só enquanto eu tentava recuperar o quadro; ele passava o tempo todo. Na sala de aula, nas conversas com Joanna, enquanto eu fazia trabalhos e a tarefa; enquanto eu comia, tomava banho ou deitava para dormir, era reprise atrás de reprise por horas, horas e horas a fio.


Muitas vezes vinham acompanhadas das frases que eu tinha ouvido até então: como a de Marian: “Você deve saber como é, não existe uma garota em Hampton que não tenha passado pelas mãos do, Curtis.”


Às vezes a de Joanna: “Quais são os segredos que se escondem por detrás dos seus hipnotizantes olhos azuis, e quais as doces palavras que saem por entre seus lábios de Adônis?”


Ou a de Aaron: “Cuidado com o Curtis... ele é um cara legal, como amigo, nossa... nem tenho palavras. Mas se você não estiver afim de uma noite e nada mais, fique longe dele.”


E sempre finalizava com a do próprio Urik: “ o problema é o papo. Conversar me cansa, dizer certas coisas me cansa. Alguma mulheres deveriam ser mudas.”

4 de abril de 2011

13º Capítulo - Armadilha


Voltamos a nossa adorada rotina; e por um mês inteiro ensaiamos e fizemos nossos shows sem nenhuma discórdia. Chad dizia que havíamos chegado ao nirvana, e que Urik tinha voltado às boas por algum milagre celestial; todos concordavam com isso, Urik Curtis estava diferente.


Ainda que nos evitasse nos momentos de descontração, ele não estava mais tão ranzinza, com o passar dos dias a sua presença não era mais tão penosa como tinha sido até então. Entretanto, o que penso hoje é que ninguém deveria ter confiado completamente que o nosso mês abençoado duraria para sempre.


Em uma tarde de ensaio, abri a porta da casa que como de costume era destrancada segundos antes da minha chegada, estranhei que os garotos estavam sentados à mesa tomando cerveja. Urik não permitia que bebêssemos antes do ensaio, era uma falta gravíssima, talvez maior do que transar com Janson.


Olhei desconfiada por algum tempo, até Nicko chamar a minha atenção:
- Pega uma cerveja, Elladora, nos acompanhe.
- Certo – Disse eu hesitante, dando os primeiros passos em direção à geladeira – Onde está o Curtis? Ele está doente, ou alguma coisa assim?


- Ah, não! – Socorreu Aaron, com um sorrisinho nos lábios – Ele está no quarto, com... DUAS minas.
- Claro! O dono da banda pode suspender o ensaio sem prévio aviso. – Exclamei com ironia desaprovando o ato, e após uma rápida reflexão voltei a falar tomada por raiva – E ninguém faz nada? Ninguém foi até o quarto dele dizer que é hora de ensaiar?


- Quem faria isso, Elladora? – Indagou, Chad - Você conhece ele, hoje ele está com “a macaca”! Quem ousaria meter a mão na porta dele? É como implorar para levar um tiro.


- Eu também não estou no meu melhor humor hoje! - Esbravejei - Tirei a primeira nota baixa da minha vida, porque o quadro que eu passei quase metade do ano pintando desapareceu! Gostaria mesmo era de estar no meu quarto chorando; mas vim ensaiar porque o Curtis não permite que faltemos aos ensaios. Então se EU não posso ficar chorando na minha cama, ele também não vai poder continuar fazendo o que está fazendo.


Assim que terminei o discurso mirei a escada, e segui sem desviar os olhos do caminho que estava disposta a seguir:
- Aonde você vai, Elladora? – Nicko questionou sem acreditar ao certo no que eu estava fazendo.
- Vou tirar o Urik da cama na marra.


Quando cheguei ao segundo andar parei no pequeno hall, e apurei a audição para tentar descobrir qual era a porta do quarto do Urik. Pela animação não demorei muito mais do que o ato de respirar para descobrir.


Posicionei-me diante da porta, e pensando em bater como prévio aviso; Porém conhecia o idiota do Urik o suficiente para saber que ele não iria abri-la. Decidi então tentar a sorte; pressionei a maçaneta levemente, e ela destravou fazendo um ruído mínimo. – Que sorte – Pensei com os meus botões.


Empurrei a porta devagar para ter uma visão de como iria atacar o Urik; Entretanto, no instante em que me deparei com a cena, não consegui pensar em mais nada. Senti meus olhos saltarem da órbita; não podia ver o rosto das garotas, e pra ser sincera não reparei muito mais do que o necessário.


Pois o que prendeu a minha atenção era a forma como o Curtis fazia amor com elas. Ele tinha um ritmo incrível, uma bunda incrível, braços incríveis, o cabelo leve acompanhava o movimento do corpo; era como um balé, com movimentos precisos e graciosos, e Urik era o professor ali. Senti minha boca salivar, meu lábio esquentar, meu cérebro ferver, e foi nesse momento que eu vacilei.


Enquanto era feita uma troca de posições, acabei por me mover inconscientemente para acompanhar o trio; não notei o momento exato em que Urik ergueu a cabeça; Só voltei a mim quando os hipnotizantes olhos azuis encontraram minha imagem no espelho, e ele sorriu, sorriu de um jeito tão gostoso que eu demorei para perceber que ele estava me encarando.


Fechei a porta no susto, e desci a escada correndo com um único objetivo, desaparecer:
- E ai, conseguiu alguma coisa? – Perguntou Aaron, no instante em que me viu.
- Não. – Respondi segundos antes de atravessar a porta sem saber se teria coragem de voltar a pisar na casa outra vez.



Recadinho:

Minhas flores, vou dar uma diminuida nas postagens por esses dias, pois minhas provas começam amanhã e vão até o dia 15.
Até dia 8 é capaz de ter atualização ainda, mas do dia 10 em diante não vou conseguir postar de jeito nenhum.
Espero a compreensão de todos... õ/
Beijos mil.

1 de abril de 2011

12º Capítulo - De volta ao Nightmares

É claro que o meu regresso ao Nightmares foi uma festa. Joanna saltitou e dançou por vários minutos, empolgadíssima com a novidade.


Quando voltei da aula, encontrei Urik começando a acordar. Enquanto ele se levantava, deixei meus livros na escrivaninha, e em seguida o acompanhei até a sua casa.


Durante o caminho pouca coisa foi dita; Pelo que me recordo falamos sobre o tempo, sobre música, sobre algum programa de tevê da época; Enfim, nada pessoal. E quando o assunto desaparecia, sentia como se estivesse presa em uma sessão de tortura, onde a qualquer momento poderia ser chicoteada pelo mau-humor de Curtis.


Entretanto nada aconteceu, quando me dei conta já estávamos na rua da casa dele, e ao avistar a casa suspirei aliviada; afinal, caminhei dois quilômetros e alguns quebrados ao lado de dele, e cheguei ao destino com todos os meus membros intactos.


Urik bateu a porta, e ouvimos Aaron gritar:
- Curtis, enquanto você não trouxer a Elladora, não vamos te dar nem pão com manteiga pra comer! – E Nicko completou:
- E nem vodka pra amenizar o frio.


Curtis fez uma careta como quem diz: - “Está vendo?! É esse tipo de coisa que tenho que aguentar!” e resmungou em seguida:
- Ela está aqui seus chorões, vamos, abram a porta.


Ouvi passos dentro da casa, e não consegui conter a risada quando vi Chad colar o rosto na janela para tirar a prova de que eu realmente estava em companhia de Urik.


Mais alguns passos, e a porta foi arremessada enquanto Aaron, Nicko e Chad pulavam em cima de mim fazendo uma algazarra.


Como prometido, Aaron fez chocolate quente para mim.


Tomamos chá das cinco com o Chad, enquanto colocávamos o assunto em dia.


E depois, os garotos apresentaram o novo número de comédia Stand-Up; Eu e Nicko choramos de rir, e nos amparávamos atrás do apoio que as nossas pernas não podiam mais dar.


Urik: O sério, galinha, chato, esquisito e egocêntrico, Urik Curtis, estava no seu computador como de costume, olhando para a tela concentrado.