21º Capítulo - Desilusão

No fim de semana que antecedeu o festival de primavera de Hampton tocamos no Public House, e para a minha surpresa Janson estava na pista de frente para mim, sorrindo bobamente da mesma forma como eu costumava sorrir para Urik.


Apesar de ter tentado, não consegui disfarçar o incômodo que a situação me causava; devolvia o sorriso vez ou outra pra Bencini completamente sem graça, e encolhia meus ombros instintivamente quando ouvia Urik espancar com força a pobre bateria.


Assim que demos o show por encerrado, comecei a me preocupar.
Ao colocar a guitarra de volta no suporte, vi que Janson se aproximou da única saída do palco.


Aaron, Chad e Nicko já haviam descido a escada, e só para tornar o meu momento tortura completo, Curtis colocou-se na minha retaguarda dando início ao diálogo:
- O senhor sorriso ali tá louco pra colocar muito mais do que as mãos em você... Me pergunto como ele se comportaria se não tivesse mais os dentes da frente, será que ele teria coragem de sorrir desse jeito pra mais alguém?


Não consegui abafar o riso que não hesitou em aparecer, porém o repreendi ao invés de incentivá-lo:
- Para com isso, Curtis... Se você quebrar os dentes dele, é capaz até de ser expulso por uma besteira.
- Besteira? - Questionou ele alarmado - Por que ele não ri desse jeito pro Nicko, pro Aaron ou pro Chad?
- Você quer que eu responda?
- Não, sua resposta já me passou pela cabeça.


- O que eu faço? Ele vai querer falar comigo.
- Ignore, oras – Não pude deixar de provocá-lo.
- Você está com ciúmes de mim, é?
- Ciúmes de você? Não me faça rir, Elladora.


- Se não é ciúme, o que pode ser? – Indaguei decepcionada.
- Só estou tentando manter a banda na linha - Respondeu ele, sem emoção.
- A banda... sempre a banda. – Balancei a cabeça desaprovando suas palavras no mesmo instante em que Janson me chamou:
- Elladora! Hei! Elladora!


Desviei meus olhos até o Curtis para ver se conseguia notar alguma reação que negasse o que ele acabara de dizer; mas seu rosto estava sem expressão:
- Vou ter que falar com ele, Urik.
- Só não faz merda, ok? – Disse ele num tom pra lá de casual – E não se atrase amanhã.


Abaixei os olhos, iniciando as passadas para fora do palco completamente decepcionada; ainda no primeiro degrau da escada voltei a olhar para trás, mas Urik não me olhava mais, estava pegando alguma coisa no chão, provavelmente um bilhete de uma nova vítima apaixonada.


O descaso com o qual ele me tratou, doeu muito mais do que seus xingamentos, ou o “holocausto” que ele provocou na minha república; Até então tinha a esperança de que Urik pudesse nutrir algo diferente por mim, mas ele praticamente me jogou nas mãos de Janson com a sua última frase.
Se existisse algum sentimento de fato, Curtis teria pedido pra que eu não me encontrasse com o Bencini no momento final.