
Estava com o olhar perdido esperando sem nenhum entusiasmo que Joanna viesse ao meu encontro para tomarmos café da manhã; Entretanto subitamente uma pequena corrente elétrica varreu o meu corpo quando a vi postar-se na beirada da mesa sorridente, cantarolando a frase que me inundou de esperança:
- Telefone pra você - ê.

- Quem é? - Questionei imediatamente.
- O Janson novamente. – Respondeu ela, me fazendo murchar instantaneamente.
- Diga que eu já fui pra aula, Jô... por favor.
- Ele está preocupado, Elladora, disse que tem mais de mês que não consegue falar com você!

- Diga a ele que estou bem... E que quando chegar da aula, você vai me dar o recado e me obrigar a retornar.
- Eu posso até dizer, mas você não está bem... definitivamente você está péssima. – Seu olhar era preocupado.

- Eu vou falar com Janson, e já estou voltando aqui para termos uma conversinha. – Antes que eu pudesse protestar, Joanna interferiu – Hei! Não tem desculpa, me espere quietinha neste mesmo lugar.
- Ok, Joanna – Bufei impaciente, na expectativa dela mudar de idéia... Infelizmente não surtiu efeito, Joanna deu de ombros e me lançou um olhar sisudo, denunciando sua vontade ávida de me passar um belo sermão.

Devia ter passado pouco mais de um minuto, quando a ouvi puxar a cadeira de frente para mim, não me esforcei para encará-la, pois estava ocupada demais procurando uma desculpa plausível para a minha falta de ânimo; A propósito estava tão ocupada com a árdua tarefa que não prestei atenção que Joanna havia se sentado, porém não tinha se dado ao trabalho de começar o discurso prometido.

Desviei meus olhos alguns centímetros à frente, e meu coração disparou ao encontrar a mão que eu reconheceria mesmo que as unhas não estivessem pintadas de preto, e os anéis idênticos aos meus não estivessem enfeitando os dedos compridos.

No mesmo instante levantei os olhos para tirar a prova final, e quase não pude acreditar no que via, Urik estava sentado de frente para mim, do outro lado da mesa, perto o suficiente para ser tocado; divinamente lindo, um pouco diferente... não consegui identificar o que era, parecia tão... adulto. Abri a boca algumas vezes para tentar expressar o que estava sentindo, mas não consegui.

Ao invés disso, Urik tomou frente ao diálogo me desconcertando completamente:
- Eu amo você – Arregalei os olhos espantada, em seguida o questionei por achar que minha audição estava me pregando uma peça.
- Você o quê?
- Eu te amo, L’adora – Urik deu um sorriso brando, e eu quase chorei por ter ouvindo o meu apelido novamente e também por ele ter dito “eu te amo” de forma tão nítida.

- Tenho algumas coisas pra te dizer... Mas, estou tão nervoso.
- Ah, Curtis... Não precisa dizer nada, já passou – Confortei-o rapidamente.
- Me desculpe por eu ter sumido, fiquei tão louco naquele dia, passaram tantas coisas na minha cabeça – Suas sobrancelhas se uniram e seu olhar se entristeceu fazendo com que eu morresse de arrependimento, por tê-lo forçado a encarar a nossa realidade - Você não deveria ter se apaixonado por mim, Elladora, e nem eu por você... Porque você sabe... eu não sou muito confiável.

- Eu sei, eu sei... não tem a mínima importância, Urik. – Tentei mantê-lo calmo por medo dele confessar coisas demais, e dizer no final que iria embora de vez; entretanto Curtis me ignorou, e prosseguiu frustrado:
- Eu me enganei a respeito de quase tudo, achava que a maneira como vivíamos não te incomodava, imaginava que me tornar inatingível em relação ao... beijo, era a única forma de te prender a mim sem que precisássemos evoluir a forte atração para um sentimento verdadeiro, com a intenção de não nos magoar jamais.

- Mas, Urik... o beijo não poderia impedir nada - observei um pouco exaltada - Você deve entender que, o amor acontece!
- Me deixe falar, por favor – Ele me interrompeu, com um tom magoado.
- Desculpa – Engoli em seco e calei-me.
- Eu sei que apesar do beijo ter sido muito importante, não era ele exatamente a única porta que me separava de você, demorei para perceber que... – Ele abaixou a cabeça e sussurrou – eu já estava te amando tinha um tempão.

- Há um tempão?! - Indaguei surpresa - Você está brincando?
- Não costumo brincar, Elladora. - Tive que concordar, muitas vezes ele não costumava brincar mesmo.
- Tá, tudo bem – Suspirei profundamente, tentando manter os pés no chão e dei continuidade um tanto hesitante – agora, você não está dizendo tudo isso pra depois me falar que ainda assim não quer mais nada comigo, não é?
- Não, não é por isso que estou aqui... vim te buscar pra te levar pra casa.
- Tem certeza?!

- Certeza absoluta. – Ele sorriu, e ficamos nos olhando por um bom tempo.
Eu estava um pouco confusa, muitas vezes tive que me esforçar para reconhecê-lo, e teria ficado naquele olho no olho por uma década, se ele não tivesse quebrado o transe:
- Sabe, você é a primeira coisa que eu desejo ver quando acordo e a última coisa que gostaria de ver antes de dormir, todos os dias.
Eu deveria ter pulado na mesa e o agarrado no ato, mas tinha que colocar tudo em pratos limpos, antes de qualquer coisa:
- E as garotas, Curtis? O que vai fazer com elas? – Relembrei a ele.

- Não vai mais existir ninguém, só você... Eu prometo. – Ele estava muito sério e parecia estar sendo honesto.
Então, não pude deixar de pensar: Aquele seria o meu castigo por tê-lo beijado a força? Ouvi-lo dizer que me amava, acordar e dormir ao seu lado e tê-lo finalmente só para mim? Tudo aquilo era bom demais para se acreditar assim tão rápido, porém resolvi dar-lhe uma chance e alguns créditos extras por estar ali, expondo os sentimentos da forma como eu tinha sonhado:
- Sabe, é muito bom poder te ver novamente, melhor ainda é poder dizer que aapesar de eu te achar um: galinha, cafajeste, presunçoso, sem vergonha, safado, ordinário, e de ter certeza que o seu ego tem o dobro do tamanho de Hampton... eu amo você, Urik Curtis, e senti a sua falta.

Após a minha declaração ousada, Urik levantou-se, e como se tivesse sido disparado por um canhão veio para o meu lado da mesa sem tirar os olhos dos meus, com um sorriso perigoso nos lábios; Foi a primeira vez que o vi olhar daquela maneira tão descaradamente para mim, senti meu corpo arder em chamas... E no mesmo instante revivi nossos melhores momentos, quase pude ter a sensação das minhas mãos escorregando na sua pele, foi o suficiente para que os meus hormônios entrassem em curto-circuito... De repente até o ar tinha parado de circular ao nosso redor.

Curtis agarrou o meu braço, puxou meu corpo até o seu encontro... e me fitando com a cara mais sacana que eu já o tinha visto fazer, disse:
- Quer saber? Acho que já conversamos demais – e então murmurou ansioso - será que existe agora a possibilidade de você me beijar?
Ele não precisou repetir a frase desta vez, quando percebi minha boca já estava na dele, e eu estava entregue ao seu beijo quente, firme, urgente e amoroso sem me importar com o que viria depois.