40º Capítulo – Corações partidos

Era tarde da noite quando resolvi voltar pra casa.
Em um primeiro momento, tinha cogitado a hipótese de voltar para a república, porém dentro do meu peito a bateria ligada só amenizava quando eu me imaginava checando o cenário de horas atrás, para ter certeza de que estava tudo bem com o Curtis.


A casa estava parcialmente apagada, não havia barulho algum, atravessei a porta receosa, e suspirei aliviada quando não encontrei ninguém na copa.
Com dificuldade corri meus olhos até a escada e me arrastei até ela.


Poucos segundos depois, eu já estava parada na porta do quarto de Urik.
Senti um calafrio me percorrer a espinha quando me lembrei da cena das duas garotas, quando eu o flagrei... Já fazia tanto tempo. Mas, e se eu tivesse que enfrentar a mesma situação naquele exato momento?


Dei meia volta, e me preparei para voltar ao térreo disposta a me deitar no sofá, entretanto no momento em que lancei o meu pé em direção ao primeiro degrau a porta do quarto dele se destrancou e eu o ouvi me chamar:
- Elladora. – Parei de caminhar, olhei para a pequena fresta sem conseguir vê-lo, e respondi:
- Que foi, Magnus?


- Você pode vir até aqui, por favor?
A única coisa que me passou pela cabeça enquanto iniciava as passadas de volta ao seu encontro foi: “Em que lugar perdi o meu amor próprio, em que esquina será que eu o deixei?”


Atravessei a porta e vi a silhueta dele sentado na beira da cama de costas para mim, estava escuro, porém não o suficiente. A luz da rua refletia no corpo de Urik; era tão bonito, tão mortal... tão sujo.


- Por onde você andou? – Questionou ele, me tirando do torpor.
- Por aí.
- Te procurei por todos os lugares de Hampton, não te achei. – Sua voz estava completamente sóbria.
- Estava no seu galpão, Urik... e estava sozinha, não precisa temer... amanhã você não será reconhecido como o “galhudo” do Nightmares.


- Não estava pensando nisso – Desconversou - só fiquei preocupado.
- Não precisa se preocupar comigo, sei me virar, sempre soube.
Ele se entregou ao silêncio senti meu coração vir até a boca, ouvi nitidamente as cinco vezes que ele engoliu o nó na garganta, e esperei pacientemente que ele tivesse se recomposto:
- Você me odeia agora?


- Que pergunta... tola. – Rebati, imediatamente.
- Se é tola, então responde.
- Não vou responder, você sabe muito bem o que eu sinto por você.
- Por que você é sempre tão... tão boa? Você deveria entrar aqui agora e cuspir na minha cara é isso que você deveria ter feito... E, você não fez. Mesmo sabendo de tudo... você ainda arruma tempo para me ouvir, para esperar que eu consiga falar... Por quê? Eu não sou nada do que você imagina.


- É exatamente por isso que eu arrumo tempo pra te ouvir, porque sei que no fundo você não é esse monstro que tenta ser. Eu te conheço tão bem que posso até arriscar adivinhar o que esta passando pela sua cabeça agora.
- O que está passando pela minha cabeça agora? - Murmurou ele.


- Você está se preparando pra terminar comigo, está lutando contra os seus sentimentos, vai dizer que não nunca me amou, e que tudo que vivemos não passou de um caso idiota.
Ele não respondeu, afundou o rosto nas mãos e chorou por vários minutos, meu coração ficou pequeno sem força, e por mais que eu não quisesse me render, foi impossível; Eu o amava demais para vê-lo sofrer por um romance que tinha destino certo.


Quando não consegui mais suportar, atravessei a cama e o puxei para o meu colo, eu o apertei de encontro ao meu peito, e então o confortei:
- Ah... Urik, vai ficar tudo bem, amor. Não chore mais.